sábado, 31 de janeiro de 2015

Diminuição das águas de Jucazinho faz vilarejos reaparecem, após duas décadas

Ruínas da antiga Igreja de Couro D'Antas

A maior seca das últimas décadas que vem assolando o Nordeste brasileiro, tem provocado enormes mudanças nas paisagens, na economia e na população. Além da morte de animais no campo devido à fome, os nordestinos começam também a conviver com o fantasma do racionamento de água ou mesmo a sua já escassez completa, em alguns municípios do Agreste e Sertão.
Em Surubim o cenário não é diferente. No entanto, algumas vezes as desgraças também nos trazem graças. É o que está acontecendo na Barragem de Jucazinho, maior represa do rio Capibaribe e que viu nos últimos dois anos de estiagem suas águas irem embora.
Apesar da grande preocupação que a diminuição brusca das águas do reservatório tem provocado na população, a qual teme que a mesma venha a secar deixando 15 municípios agrestinos sem água, a seca trouxe a história à tona outra vez.
Quase vinte anos após a sua inauguração, a diminuição do nível do reservatório fez ressurgir antigos povoados e vilarejos que estavam cobertos pela água. É o caso de Capivara e Couro D'Antas. Estes dois vilarejos, que foram abandonados e destruídos pelos moradores para a construção da barragem, agora estão com suas ruínas descobertas.
Importantes povoados dos municípios de Frei Miguelinho e Riacho das Almas, no passado esses locais eram  ponto de travessia no Capibaribe ligando as duas cidades e rota certa para quem quisesse encurtar as distâncias entre  elas.
As ruínas das antigas casas, da escola e da igreja de Couro D'Antas podem ser vistas novamente. O passado volta ao presente, como se quisesse nos dar um recado: o desenvolvimento que nos destruiu será o mesmo que poderá destruir vocês.
O homem busca de todas as formas desenvolver-se e acumular riquezas. Preocupa-se muito com o dinheiro, o capital, mas se esquece do meio ambiente. As riquezas econômicas geradas pela utilização das águas de Jucazinho, escondem a destruição de vilarejos com seu povo, sua história e sua cultura, bem como a inundação de milhares de hectares de mata de caatinga, matando sua flora e fauna.
O desenvolvimento rouba de nós as nossas origens, mas a própria natureza faz questão de nos devolvê-la. As ruínas de Couro D'Antas e Capivara nos faz pensar o que dizia o profeta de Canudos, Antônio Conselheiro: O mar vai virar Sertão. A história de um povo volta à tona  e traz junto com ela a preocupação que devemos ter com a natureza. 
Embora as ruínas  desses vilarejos sejam uma fonte histórica inestimável, não há nenhum cuidado por parte da população local ou dos órgãos públicos em preservá-las. Parte do que sobrou da escadaria da antiga igreja do Povoado de Couro D'Antas está sendo destruído por vândalos. No local é possível encontrar restos das colunas e da fachada da mesma, além de parte do seu piso original coberto de lama e entulho. Além da capela, chama a atenção também o antigo cemitério que estava encoberto pelas águas.  Dele pouco resta, mas a memória de quem ali viveu e morreu está guardada em seus restos de concreto. 
Com a diminuição das águas, a antiga estrada de terra que ligava Riacho das Almas a Surubim foi reaberta. Agora carros,motos e pessoas voltaram a trafegar onde antes era o fundo da represa. Hoje apenas areia do rio. Resta saber até quando essa estrada durará, uma vez que com a volta das chuvas no futuro, Jucazinho tende a voltar a encobrir esse lugar. 
Embora que por poucos dias as pessoas  possam novamente andar  por esses locais,  a natureza fez questão de demonstrar ao homem o seu poder e a nossa limitação. A história renasce outra vez, ao passo que nos deixa uma lição: é preciso repensar o futuro que queremos. Ou pensamos urgentemente em sustentabilidade, ou as ruínas do passado, antes encobertas por água, poderão virar presente.

Texto e fotos: João Paulo Lima 

Ruínas das casas do antigo Povoado de Couro D'Antas

Antiga ponte em Couro D'Antas

Restos do piso original da antiga igreja de Couro D'Antas


Represa de Jucazinho vazia

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