Foto: Editora Abril/ Divulgação
Se você nasceu na década de 1980, como esse blogueiro que vos escreve, certamente se lembrará das famosas revistas que enchiam nossos olhos na banca de revista ou até mesmo nos salões de beleza e nas barbearias, que eram lidas pelos clientes enquanto esperavam ser atendidos. Entre os muitos títulos, as revistas da Abril eram marca registrada.
Depois de décadas de auge e de ter criado a mais importante revista em circulação do país, a VEJA, a Editora Abril segue em seu processo de recuperação judicial, com uma dívida inicial de 1,6 bilhão de reais. Nessa nova fase, ativos, sites e revistas foram vendidos e extintos e a poderosa família Civita já não é mais a sua proprietária. Os Civita, ex-magnatas do mundo editorial, venderam a Abril no final de 2018 para o empresário Fábio Carvalho por um valor simbólico de 100 mil reais.
A verdade é que as revistas impressas não resistiram ao mundo digital, em que os jornais e as revistas já não são mais comprados nas bancas e nem entregues pelos antigos jornaleiros. A notícia agora chega quentinha na tela dos celulares e tablets dos jovens, cada vez mais globalizados, bem como nas famosas redes sociais. Até mesmo os blogs têm tomado o lugar dos jornais nos tempos atuais.
Nos tempos áureos a Abril chegou a vender 1 milhão de exemplares impressos por semana. Em 2020 eram apenas 144 mil cópias em papel. O baque era inevitável. Viria uma sucessão de fechamentos e vendas. O grupo já havia vendido em 2013 a frequência da MTV Brasil, que foi extinta após 23 anos da sua fundação.
Em 2018 o seu novo proprietário anunciou o fechamento de várias revistas como Elle, Casa Claudia e Minha Casa. Em 2015 metade do prédio sede da editora na Marginal Pinheiros em São Paulo foi devolvido aos donos tentando conter a crise financeira instalada na empresa. Na ocasião, até o busto do fundador do Grupo Civita foi retirado do prédio. Em 2019 foi a vez de vender a revista EXAME para o Grupo BTG Pactual por 72,3 milhões de reais, detentor da maior parte da dívida da Abril.
Nesta última sexta-feira(21) foi a vez do antigo prédio da Editora Abril na Marginal Tietê em São Paulo ser leiloado por R$ 118,8 milhões. No local funcionou a maior gráfica da América Latina, até janeiro de 2021, quando foram demitidos cerca de 300 funcionários. No prédio também funcionaram a sede administrativa do grupo e boa parte das redações das famosas revistas.
Aos poucos, a gigante vai sendo desintegrada e a memória de um dos maiores grupos de comunicação impressa do mundo vai se esfacelando. A venda do prédio da Editora Abril é como a extinção de uma grande emissora de tv que por anos marcou nossas vidas, dessa vez não com cenas, mas com fotografias e matérias que mostraram o nosso cotidiano, nos deram dicas de estilo e beleza, nos ajudaram a comprar automóveis, moldaram os nossos comportamentos e marcaram a sociedade brasileira. A Abril vai sendo silenciosamente sepultada.
Por João Paulo Lima, estudante de jornalismo e blogueiro