São Paulo – Angela Mendes, filha do líder seringueiro Chico Mendes (1944-1988), afirmou hoje (29) que considera a candidata à Presidência da República Marina Silva (PSB) um “enorme ponto de interrogação”. Angela criticou a postura da presidenciável ao se desvincular do PT quando senadora, em 2009, "por não resistir a pressões de setores elitistas da legenda". À época, Marina justificou a saída dizendo que irialutar “em busca do sonho” de desenvolvimento sustentável e, logo em seguida, se filiou ao PV. A candidata deixou o PT após militar por 30 anos no partido, e ter ocupado o posto ministra do Meio Ambiente de 2003 a 2008, nos dois governos de Luiz Inácio Lula da Silva.
“Se não resistiu à pressão enquanto ministra quem me garante que vai resistir à pressões ainda mais fortes se eleita presidente?”, questionou. Angela Mendes disse ainda apoiar a reeleição de Dilma Rousseff (PT), por acreditar que sua política, apesar dos problemas, “não admite dúvidas”. “Minhas esperanças são pra companheira Dilma, que ela consiga, se eleita, continuar melhorando o Brasil”, escreveu em sua página do facebook.
Marina tem apresentado uma campanha em que defende a busca de uma terceira via de governo, independente da polarização entre PT e PSDB, e promete que inaugurará uma nova forma de fazer política. Ela ainda afirma que sua equipe de governo será composta pelos “melhores nomes” em cada área de gestão, dispostos a mudar o Brasil. No entanto, na visão de Angela, somente o “discurso ecologicamente correto e bem acabado” não é suficiente para governar o país. As divergências políticas dentro do PSB, partido de Eduardo Campos e que abriga hoje Marina e membros da Rede Sustentabilidade, e entre as demais legendas da coligação Unidos Pelo Brasil (PPS, PPL, PRP e PHS) são grande empecilho para que a candidata consiga executar suas propostas, caso eleita.
“Com tantas concessões feitas pela cúpula do PSB, aliás, todas as concessões possíveis, penso eu, o que será que tramam as cabeças pensantes desse partido caso consigam eleger Marina? Terá ela realmente liberdade pra governar? Não sei, como será esse mandato em rede, apenas com os melhores? Quem são esses melhores e quais critérios serão utilizados pra escolha desses 'melhores'?”, argumentou Angela. A filha do líder acriano ainda lembrou que Marina, apesar de apresentar um discurso pró-preservação quando ministra do Meio Ambiente, extinguiu a Secretaria de Coordenação da Amazônia (SCA), considerada “porta aberta para as demandas dos movimentos ambientais”.
A candidata do PSB chegou a comparar Chico Mendes à herdeira do banco Itaú Neca Setúbal, na última terça-feira (26), durante o debate entre os presidenciáveis promovido pela Rede Bandeirantes. Ela considerou que o líder seringueiro do Acre pertencia a uma corajosa “elite” brasileira, da qual Neca – sua apoiadora nas campanhas de 2010 e 2014 – faz parte. Ainda no Acre, Marina iniciou a militância em movimentos sociais ao lado de Mendes, mas, para o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri (AC), do qual o seringueiro foi presidente, a candidata tenta atrelar ao líder sindical sua imagem ambientalista.
“O companheiro Chico foi um sindicalista e não ambientalista. Isso o coloca num ponto específico da luta de classes que compreendia a união dos povos tradicionais (extrativistas, indígenas, ribeirinhos) contra a expansão pecuária e madeireira, e a consequente devastação da floresta. Essa visão distorcida do Chico Mendes ambientalista foi levada para o Brasil e a outros países como forma de desqualificar e descaracterizar a classe trabalhadora do campo e fortalecer a temática capitalista ambiental que surgia”, disse a entidade, em nota.
Em entrevista à RBA, a atual vice-presidenta do sindicato, Dercy Cunha, presidenta da entidade antes de Chico Mendes, na década de 1980, também reforçou a descrença em um governo propositivo da candidata do PSB. “As alianças e os vínculos que a Marina tem nos mostram que ela jamais teria condições de aplicar um projeto de sustentabilidade. A verdadeira sustentabilidade ofende os interesses do grande capital”, afirmou Dercy.
Contrária às críticas por parte do sindicato e de Angela Mendes, a viúva do seringueiro, Ilzamar Mendes, declarou apoio à candidatura de Marina Silva. Em entrevista ao portal Terra, Ilzamar disse concordar com a classificação de Chico Mendes como “elite” brasileira e afirmou que seus ideais de luta estão presentes em Marina “no jeito dequerer governar o país olhando para os mais pobres, para as questões sociais que dificultam a vida do povo”.
Fonte: Rede Brasil Atual
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