Os jornais de terça-feira, 7 de outubro, anunciam o que todos os que sempre souberam do que se tratava a candidatura Marina Silva já intuíam: a autoproclamada representante da "nova política" irá apoiar Aécio Neves e o PSDB no 2º turno contra Dilma Rousseff.
Antes de prosseguir, porém, façamos uma viagem no tempo. Voltemos a 2010, logo após a eleição em 1º turno. Matéria da Folha de São Paulo, publicada poucos dias após o pleito, explica o déjà vu que causa ver o emocional da militância petista de domingo para cá.
Como se vê, em 2014 a militância petista cometeu o mesmo erro de 2010, quando acreditou que a subida de Dilma na reta final do primeiro turno bastaria para ela se eleger.
Como agora, em 2010 a vitória em 1º turno não aconteceu e a militância ficou abalada, razão pela qual a campanha de Dilma, neste ano, pedia desesperadamente para não se falar em vitória no 1º turno. Porém, assim como no caso do "volta Lula", é difícil controlar os sentimentos de centenas de milhares de militantes.
Até porque, neste ano tudo conspirava para esse sentimento de vitória no primeiro turno proliferar. Além de Marina ter começado a derreter, a situação de Aécio era muito ruim. Tão ruim que a jornalista mais tucana do Brasil, em sua coluna na Folha, previa o desastre.
A maioria da grande imprensa e da imprensa alternativa previa uma catástrofe não só para Aécio, mas para seu partido. Se o tucano não tivesse reagido, o PSDB teria afundado. Beneficiários do voto desiludido em Marina, o tucano e seu partido ressurgiram das cinzas na última hora e surpreenderam o país.
Agora, porém, começa nova etapa da eleição e, com isso, os eleitores terão mais claro quem é quem.
Os tucanos, seus apoiadores na população e, sobretudo, a mídia tucana já estão se precipitando de novo e comemorando suposta vitória de Aécio sobre Dilma no 2º turno. Fazem uma conta que pode não ser bem assim. Acreditam que cem por cento dos votos de Marina migrarão automaticamente para Aécio.
Desculpe, tucanada, mas, como já disse, não é bem assim.
Ainda na Folha, dois colunistas de preferências político-ideológicas diametralmente diferentes analisam o resultado das "jornadas de junho" sobre esta eleição. Cada um tem uma visão sobre o que os protestos de 2013 causaram na política.
Os colunistas em questão: a mesma Eliane Cantanhêde, citada acima, e Vladimir Safatle, a cota do PSOL entre o time de colunistas da Folha. Vale muito a pena ler esses dois textos porque mostram o que foi que o país colheu daquele processo.
Cantanhêde vê com bons olhos que tudo aquilo tenha redundado em Aécio.
Apesar de temerosa em sua comemoração – como mostra o seu último parágrafo –, Cantanhêde acha que existe algum simbolismo de amadurecimento do eleitorado paulista ao vitaminar um partido que implantou racionamento de água sem avisar a população e que está metido em uma miríade de escândalos, a começar pelo próprio Aécio.
Por outro lado, a cota "esquerdista" dos colunistas da Folha também reflete sobre os efeitos eleitorais das "jornadas de junho". Vladimir Safatle, ligado ao PSOL, decepciona-se com o que "as ruas" produziram em termos de "renovação".
A analogia de Safatle é perfeita: falar em renovação no futebol brasileiro e chamar Dunga para dirigir a Seleção equivale a falar em renovação na política e chamar Aécio e o PSDB para dirigir o país.
Filiado ao PSOL, entusiasta das "jornadas de junho", finalmente caiu a ficha de Safatle: tudo aquilo, como tantas vezes se disse nesta página, só serviu para fortalecer a direita. A menos que alguém ache que trazer a privataria tucana de volta "renova" a política.
Contudo, o texto de Safatle mostra que muitos dos que embarcaram não só na onda das "jornadas de junho" quanto na onda Marina receberão muito mal a adesão da candidata derrotada a Aécio.
O eleitorado que se manteve ao lado de Marina no 1º turno acreditou nela quando se disse arauto da "nova política". Agora, com a adesão à privataria tucana, boa parte daqueles mais de 20% que descarregaram seus votos nela no domingo, pensará melhor.
Boa parte do PSB e do eleitorado de Marina não enxergam os tucanos como ela e seu partido. Esse apoio formal ao partido que se tornou o principal reduto da direita brasileira pode selar a vitória de Dilma, quem precisa crescer 4 pontos (votos válidos) para se reeleger.
Fonte: Brasil247
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