Foto: Cantinho de sugestões para EJA
Muito tem se falado nos últimos dias sobre o valor do novo piso nacional dos professores. O debate em torno de tal assunto tem repercutido na imprensa brasileira e tem trazido à tona algumas reflexões e questionamentos sobre o papel do professor e da educação na construção do nosso país e no seu desenvolvimento socioeconômico.
Historicamente o professor sempre foi um profissional visado na sociedade. No período colonial, as famílias da elite brasileira tinham um filho padre, um médico, um advogado e um professor. Nos últimos anos, no entanto, especialmente na década de 1990, o mestre perdeu expressivamente o respeito social que lhe é devido enquanto profissional, uma vez que a escola perdeu sua importância histórica, baseando-se apenas num valor teórico de transmissão do conhecimento.
A escola atualmente é tida como a salvadora do mundo, a grande entidade responsável pela transmissão dos valores, pela construção da família e do caráter humano, pela construção e difusão do conhecimento, pelas soluções para os desequilíbrios ambientais do planeta, pela educação no trânsito, pelo combate à dengue, Aids, drogas, DST´s, enfim, o ambiente escolar é visto como o local de salvação da humanidade desestruturada em que vivemos e nesse aspecto, o professor passa a ser o profissional mais cheio de atribuições que existe, mas ironicamente, o menos valorizado.
O político, o juiz, o médico, o advogado, o padre, o padeiro, enfim, todas as pessoas e profissionais passam ou já passaram pelo profissional da educação e atualmente, em geral, ganham muito mais que ele. Educar é 'vocação", é "amor", é "doação" e criam-se características para se justificar a péssima valorização dos professores. Outros dizem até ser uma regra do sistema capitalista: a regra da oferta e da procura. Ou seja, devido ao grande número de professores, seu salário tende a ser mais baixo que em outras profissões, o que é na verdade uma grande mentira. Sabe-se que o Brasil necessita de mais 260 mil professores para preencher as lacunas que existem nas escolas de educação básica.
Muitos são os prefeitos e governadores que alegam que não tem condições de pagar o novo piso dos professores, fixado em pouco mais de 1.450 reais. Mas fico me preguntando: será que falta dinheiro para investir em educação no país que tornou-se em 2010 na sexta potencial econômica do mundo, passando em dinheiro o Reino Unido? Será que um país que irá desembolsar bilhões de dólares para realizar uma copa do mundo e uma olimpíada, não pode pagar tão pouco a um professor que tanto contribui para o desenvolvimento da nossa nação? E por que não falta dinheiro para os aumentos salariais dos políticos brasileiros? Por que não faltam verbas para festas em praças públicas, a famosa política do pão e circo criada pelos romanos, que faziam festas e davam pão à população quando esta estava insatisfeita com o imperador?
É inegável que as grandes nações desenvolvidas do mundo investiram na educação da sua população. Os Estados Unidos, a Inglaterra, O Japão e mais atualmente países como a Coréia do Sul, tornaram-se grandes centros econômicos e tecnológicos devido aos investimentos que fizeram na sua educação, compreendendo entre esses investimentos o salário do professor, sua capacitação e o investimento na infra-estrutura das escolas, além do transporte escolar, merenda escolar, entre outros fatores que contribuem para o desenvolvimento educacional.
A ferida da educação brasileira é histórica. Ela não começou com Dilma, tão pouco terminará com ela. Levaremos, no mínimo, vinte anos para nos tornarmos um país desenvolvido. Mas é importante que lembremos que a educação será a grande responsável pelas revoluções que podem vir a acontecer nosso país. Sem um boa educação, jamais teremos mão de obra qualificada e sem esta, jamais as empresas poderão se expandir com a falta de trabalhadores capacitados. Nesse contexto, é impossível imaginar o Brasil do futuro, observando que a educação e os professores são tratados de forma pior que no passado. Sem educação, jamais construiremos uma boa nação e como diria o grande mestre Paulo Freire: "Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda".
Texto: João Paulo Lima
Professor de Geografia da Rede Municipal de Educação de Surubim
e Especializando em Gestão Pública pelo IFPE
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